Monday, November 10, 2008

www.myspace.com/lglopes

Friday, January 04, 2008

II.
´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´para naima, de john coltrane

sol atravessando
alucinação lenta, a névoa cinza,
tempo em ângulos
timbre claro, fóssil
lapida-se na matéria fria dos ciclos,
através dos ciclos, estende-se,
como uma nota larga,
canta, esvanece a madrugada imaterial
- o sol, me vêm coisas reluzentes.
umas garotas a vestirem-se brancas
a morrer na beira d´água
lentas, e no cheiro lhes atravessa o timbre solar do canto
desistem da morte na beira d´água,
formam frases de um instrumento claro
- o sol ecoando, como paredes da praia,
água, costas, o sol movendo-se,
plano sequência do dia,
trazendo o dia nas mãos, nos peitos, nas axilas, atravessando,
sendo o som de um instrumento solar

Monday, November 19, 2007

"morte é transfiguração pela imagem de uma rosa"
(Helder)


Está mais uma vez o corpo a não conter-se,
a fronte polida nas cores quentes da escrita,
o cérebro em sangue. No desespero do amor pelas mãos,
pelos dedos,
no arado dos nervos do mundo,
deita-se.
Mais uma vez, o corpo por sobre seu luxo.
Colheita das árvores de memória e ódio, deita-se
como a gravitar em torno de si o cataclisma interior,
canção do corpo. O cérebro rítmico,
escuta do corpo,
os nervos dependurados. Deita-se.
À tarde, a modelar arquipélagos, em movimento.
Alimenta-os a matéria rude das guerras silenciosas,
por sobre a fronte.
À tarde, os nervos.
Vocação insular da obra.
Escreve-se a morte pétala a pétala.

Tuesday, October 09, 2007

profissão

Não há que se negar o fascínio
e o horror - parte-se deles.
Afinal, é sempre a dança o objeto de que se fala.
Há que se dizer: com alguma evidência,
percebem-se as intrincadas estruturas do movimento.
É sempre a equação do abismo,
a gerar formas,
elas se movem, "estão a falar umas com as outras",
não há que se barrar o pulso - parte-se
da rítmica que subjaz a todas as coisas.
É mesmo o caso de se dizer:
- Eis um tratado, um idioma, um traço entre os objetos.
- Eis uma taxionomia, um sistema.

Não há que se negar o corte particular da percepção que o
[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[conforma.
Trata-se sempre da ciranda dos nomes,
cosmogonia corporal.
Pois que o poema não nega a saudade do lar que lhe está
[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[inscrita,
guarda-a, como a constituir uma ciência bruta, das mãos,


- Trata-se do artesanato que há de salvar-nos,
a palavra como ato arquitetônico.



Estamos a esculpir a instrumentação, a buscar as
[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[canções necessárias.
Ordenamos as coexistências para fotografá-las,
[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[estuprá-las
com o amor violento do fascínio e do horror.
Como a constituir uma ciência autônoma da visão,
cinema próprio.
É o caso de assumir um amor imensamente egoísta
pela matéria, pelas mãos e pelo gesto que as unifica.
É o doloroso segredo que guardamos: saber a máquina
[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[abstrata,
ouvi-la,
como ao silêncio original de onde partem os idiomas,
que nos germina a loucura, ou a música,
de onde a certeza de que tudo será claro se faz possível
pois há uma melodia a formar-se,
a conectar os homens de todas as eras,
canção constantemente reescrita, ao fim dos tempos,
como a secreta eternidade que reside na beleza,
Casa, casa.

Monday, September 03, 2007

I


Ouvir morrer o mar por sob a pele, toda a água epidérmica
revolvida à exaustão.
As garotas que guardam os meses levantam-se na água,
guardam os meses nos peitos,
o sal lhes invade a percepção, vê-se
as garotas invadidas, docemente, na pele
dos meses frios,

lembrar, é preciso dizer novamente a organização daquela frase,
devolver à água o amargor pequenamente cantarolado das
?????????????????????????????????????????????[garotas,

ao cultivar do choro, ao cultivar do canto,

revolver a epiderme dos meses cantados, é preciso sentir frio,
perceber o frio como a uma estação do corpo,
como uma sutil invasão das delicadezas,

transportar o fogo nas mãos,

ouvi-lo. E tantos líquidos a se avizinhar do som, pelo fogo,
na melodia besta das garotas,
que guardam os meses na pele, a melodia rouba os avermelhados
?????????????????????????????????????[ao coração,
rouba das mãos algum tato, traz à pele o cheiro doce
das garotas invadidas pelo sal, pelo choro, os seus peitos
?????????????????????????????????????????[mordidos
pelo mar beijam-lhe a boca toda e a língua, gemem,
choram a graça dos meses frios,
deslizam até a claridade,
levantam-se da água para morrer brancas.

Monday, August 06, 2007

a observar um arquipélago

("e quando enfim a pergunta:

\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\- O mar?")



Carne rasgada sobre o papel de prata,
como infância sintática:
- Em mim a violência busca o amor.
Todo o verbo sangra,

o papel impresso, feito água, carne,
verborragia, chego à rouquidão,
tudo sangra. Em mim a violência busca o branco,
como infância.

Como se esperasse que a velocidade se esgote,
espero. - Tudo será branco, água, sal.
Em mim a violência está na carne, busco-a,
continente imenso papel de prata, o mar.

- Tudo será branco.

Sunday, July 29, 2007

lixofonias 1. pela casa o som dos inseticidas uma quase polifonia em construção - no início era o som, a voz, o coro [antes até da afinação], de um alfabeto desastrado do fogo / da violência / do tesão, ("alguma coisa quase, mas nem tanto"). 2. Deito-me, levanto-me, penso que é enorme cantar (...) os clavicórdios, tragam os clavicórdios. existe um alfabeto caído, do plágio / da máquina embaralhadora de plugins / do código de barras: (voz de um super heroí de sabão em pó): - Sequestraremos as legibilidades vomitadas, e todo ruído será um slogan. Para que se encene a era dos slogans eletroacústicos. 3. O coro se escorrega todo em sujeira de microtons, eis o liquidificador, o totem, e novamente o alfabeto assimétrico do lixo, disseram sugerir as inflexões da voz, as imagens "de digestão", "de dilatação", "de movimentação", "de respiração" ("à sua extraordinária desordem preside o pensamento"), disseram ser a dança uma reação ao medo, e a necessidade e a vontade do canto o amor pela punhalada, de trazer à voz um lugar, uma casa para se aplicar e desenvolver as sensibilidades do corpo. (voz de crooner): - E o som dos mosquitos não resistirá às mágoas desse inseticida. e deu-se a dizer da barroca culinária sonora daquelas pedras, de um desajeitamento quase proposital, afinal não é apenas isso a que se dão fazer? (quando da multiplicidade), e na verdade que se diga que vão rolar os adultérios, a festa, dizem, chamem os clavicórdios!, chamem os clavicórdios!, e todos os mosquitos da casa.




em ACasa fala #2
por graveola e o lixo polifônico, em residência n´ACasa
39o Festival de Inverno da UFMG. Diamantina, julho de 2007

www.myspace.com/graveolaeolixopolifonico